“ Mortos de cansaço, chegamos lá. Não havia ninguém. Nem parecia que houvera distribuição de brinquedo. Mas houvera, sim, porque a rua estava cheia de papel de seda amarrotado. A areia estava toda colorida de papel rasgado.
Meu coração começou a inquietar-se. Chegamos defronte e seu Coquinho estava fechando as portas do Cassino.
Falei, afogueado, para o porteiro: — Seu Coquinho, já acabou tudo?
— Ano que vem, vocês precisam vir mais cedo, seus dorminhocos! | |
— Tudo, Zezé. Vocês vieram muito tarde. Foi uma enchente. Fechou meia porta e sorriu com bondade. — Não sobrou nada. Nem para os meus sobrinhos. Fechou a porta toda e veio para a rua. — Não faz mal. Bem que fazia. Estava tão triste e decepcionado que preferia morrer a que tivesse acontecido aquilo. — Vamos sentar ali. A gente precisa descansar um pouco.
— Estou com sede, Zezé.
— Quando a gente passar no seu Rozemberg a gente pede um copo d'água.
Chega pra nós dois.
Só então ele descobriu toda a tragédia. Nem falou. Olhou pra mim, fazendo beicinho e com os olhos boiando.
— Não faz mal, Luís. Você sabe o meu cavalinho Raio de Luar? Eu vou pedir a Totóca mudar o cabo dele e dar de Papai Noel para você.
Mas ele fungou comprido. — Não, não faça isso. Você é um rei. Papai disse que batizou você de Luís, porque era o nome de rei. E um rei não pode chorar na rua, defronte dos outros, viu?
Encostei a cabeça dele no meu peito e fiquei alisando o seu cabelo encaracolado.
— Quando eu crescer vou comprar um carro bonito como o de seu Manuel Valadares. Aquele do Português, você se lembra? Aquele que passou pela gente não chore que um rei não chora.”
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ResponderExcluirPRIMEIRA
O meu pé de laranja-lima
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