quarta-feira, 21 de
março de 2012
http://sobreeducacao.blogspot.com.br/2012/03/o-lider-da-classe.html
O Líder da Classe
Brad Cohen é o personagem
central do filme "O Líder da Classe". O verdadeiro Brad convive com
sua companheira - como refere-se no filme - a Síndrome de Tourette, desde os
seis anos de idade. Vive hoje em Atlanta, é casado com Nancy, mantém uma
associação para pessoas com a síndrome e faz o que lutou uma vida inteira para
concretizar: Ser professor.
Leve, engraçado e uma grande
lição de vida e persistência. Assim é o filme. Brad nunca foi vítima da sua deficiência.
Do contrário. Usou a síndrome para criar, desde muito cedo uma filosofia de
vida, dedicando a maior parte do seu tempo perseguindo um ideal.
Vygotsky em seus escritos
sobre Defectologia e Compensação teoriza que existem dois tipo de deficiência.
Uma, a deficiência primária, de causa orgânica; outra, secundária, sendo esta,
medida socialmente e remetendo ao fato de o universo cultural estar construido
em função de um padrao de normalidade.
A teoria focaliza a distinção
entre estas
concepções, enfatizando a deficiência orgânica enquanto diferença, como um
signo da humanidade; enquanto a secundária, como grande limitadora do
indivíduo. Para ele, em grande parte das vezes, " As consequências sociais
do defeito acentuam, alimentam e consolidam o próprio defeito".
O defeito
tratado na teoria de Vygotsky, é assim compreendido como uma invenção social. O
desenvolvimento da criança com deficiência não está condicionado apenas ao
fator orgânico, mas, fundamentalmente à forma como a deficiência é significada
pelo grupo social do qual faz parte. Assim, o déficit orgânico da deficiência
torna-se subordinado às ações culturais. Como resultado e em decorrência dessse
olhares, consolidam-se ações que poderão, ou serem adequadas, ou empobrecer o
processo de desenvolvimento destes sujeitos.
O filme ilustra de forma muito
pontual essa fala. Não é a deficiência que limita Brad, é a forma como é
significada pelas pessoas. A deficiência cria nele um desejo que funciona como
elemento propulsor, uma espécie de compensação. No entanto, seu desejo esbarra
em um contexto social que não vê possibilidades, que inviabiliza, que não cria
caminhos alternativos. Sua deficiência é limitante, não porque o seja nas suas
condições orgânicas, mas sociais. Brad é visto como deficiente, portador de uma
síndrome que de modo generalizante incapacita e limita o sujeito a atuar de
forma ativa e eficiente no seu espaço. Para as pessoas Brad não tem
personalidade, não tem nada que o diferencie de outras pessoas com deficiência.
Brad não é outra coisa senão sua síndrome. A
reação subjetiva aos limites inerentes à deficiência e o lugar que ocupa essa
condição na totalidade de suas características são desconsideradas.
Se tivesse que sintetizar a
trama em uma frase escolheria a de Rubem Alves: O que muda não é a diferença.
São os olhos.
A realidade não é algo fixo,
estático e imutável. A realidade é dinâmica. E pode ser só uma ilusão.